quarta-feira, 1 de abril de 2015

Cuidados extras ao manipular e cozinhar o amigo frango!!!



Oi pessoal!

Hoje, o post será dedicado ao tema: Motivos para não se lavar o frango.

Eu já estava com a intenção de direcionar um post para este tema, que eu havia comentado em um post antigo e o que me impulsionou foi uma notícia divulgada este mês, que uma irlandesa ficou paralisada do pescoço até os dedos dos pés depois de adoecer por ter consumido um frango que estava contaminado com Campylobacter.

Sandra Loftus, de Kinsealy, Dublin, contraiu a campilobacteriose, que é uma gastroenterite bacteriana. E, em decorrência da campilobacteriose, ela desenvolveu a Síndrome de Guillain-Barre, que é uma consequência rara da doença e altamente debilitante do sistema nervoso

De acordo com pesquisadores da Irlanda, 98,3% dos frangos vendidos no país possuem esta bactéria. E uma em 100 pessoas que são infectadas por Campylobacter desenvolvem a Síndrome de Guillain-Barré.

Mas como aconteceu isso, gente?! Vamos lá!

Sandra preparou um jantar familiar inocente, com um frango frito à moda chinesa. Os primeiros sintomas foram diarreia, náusea e dor de estômago. Mas em 4 dias, Sandra começou a ficar muito debilitada, apresentando o quadro de paralisia, onde ela não conseguia mover um único músculo do pescoço aos pés. Ela ficou cerca de 3 meses em tratamento intensivo e mais 9 meses em reabilitação. Felizmente, Sandra conseguiu se recuperar, mas pensou que iria morrer, principalmente depois que soube que cerca de 25% das pessoas que contraem a Síndrome de Guillain-Barré acabam por falecer.

Mas ela fritou o frango ué?! Fogo não mata tudo?

Depende!
O frango e qualquer alimento submetido à cocção devem atingir temperaturas superiores a 74°C na sua porção mais interna e o fato da Sandra ter fritado o frango, não significa que alcançou a temperatura de segurança (74°C) no interior da peça ou Sandra pode ter se contaminado antes mesmo da cocção do frango. Eu explico mais adiante...

Outra informação importante é que essas bactérias são termófilas, ou seja, são capazes de se multiplicar em temperatura mínima de 30°C e máxima de 46°C. Portanto, uma aquecidinha boba não resolve nada! Outro fato é que elas podem sobreviver em alimentos congelados!!! Então o frango congelado não está isento de conter Campylobacter!!! Atenção!!!

Então por que não lavar o frango?

Ao lavar o frango, geramos microgotículas que facilmente se espalham por toda a superfície ao redor da pia. Dessa forma, todo utensílio, superfícies (ex: tábua de corte) e/ou alimento (ex: vegetal higienizado pronto para ser consumido) que por ali estiver e que não for rigorosamente descontaminado, será um foco importante de contaminação.

O manuseio do frango cru ou mal cozido também é um importante fator de contaminação, pois após o manuseio, se as mãos do manipulador não forem muito bem lavadas, a contaminação vai acontecer! Sandra pode ter se contaminado assim! Deu aquela provada no tempero do frango cru. Uiiiii!!!! kkkk Ou não, né? Muito provavelmente foi pela ingestão mesmo do frango que não devia estar muito bem cozido por dentro.
Percebam que por onde o frango ou a aguinha do frango entrar em contato, haverá ali muuuuitas bactérias!!!
E um fator extremamente importante é que: baixíssimas quantidades de Campylobacter (500 UFCs) são suficientes para causar a colonização e a infecção humana.

Essa figura demonstra bem como ocorre a contaminação se colocássemos uma espécie de lupa ao lavar o frango. Percebam que a contaminação está evidenciada em verde no Germ-vision:


Por isso, mais uma vez: Não lave o diacho do frango!!!


Como o frango adquire esta bactéria?! Ele não adoece?!

Geralmente, não. A infecção das aves pelo Campylobacter não aparenta sinais clínicos e por isso é difícil identificar o problema nas granjas. A contaminação ocorre através do ambiente, incluindo água, lotes de aves com idade avançada, animais domésticos, roedores, insetos, funcionários, equipamentos e veículos.

Mas Campylobacter causa mais doenças do que a Salmonella? Nunca ouvi falar dessa bactéria!

Nos países desenvolvidos, onde há uma notificação de casos mais presente, Campylobacter é o maior causador de diarreias causadas por bactérias, mais do que Salmonella spp. Aqui no Brasil, infelizmente, carecemos de dados nesse sentido, pode ser por isso que ela é pouco falada por aqui.
A campilobacteriose ocorre em casos isolados e a salmonelose é mais comum em surtos, isso também ajuda na má fama da Salmonella!
E você achando que a Salmonella era a top hein!


Mas como ocorre a doença?

A campilobacteriose ocorre através da ingestão de água e alimentos contaminados, como carnes mal cozidas, ou contaminação cruzada no preparo de alimentos (já expliquei anteriormente).
Os principais sintomas são diarreia, frequentemente hemorrágica, dor abdominal, febre, dor de cabeça, náuseas e/ou vômitos.
A doença geralmente se cura naturalmente em cerca de 7 dias, excluindo-se a necessidade de antibioticoterapia. Mas, há casos onde ela se faz necessária.
Complicações graves da doença, embora raras, incluem a Síndrome de Guillán Barré, artrite reativa, síndrome urêmico-hemolítico e septicemia.

Como prevenir?!

Não lave o frango!!!
Sempre lave muito bem as mãos após manusear frango cru ou não completamente cozido
Sempre lave muito bem e desinfete os utensílios que entraram em contato com o frango cru e não completamente cozido.
Dica: Lavar utensílios com água e sabão, enxaguar bem e imergi-los em água fervente por 15 minutos (o que puder ser fervido, óbvio!); os que não podem ser fervidos devem ser imersos em solução de hipoclorito de sódio (10 mL de água sanitária + 1L de água)
Procure verificar a temperatura interna de peças mais robustas com um termômetro de alimentos.
Dica: O termômetro tipo vareta é o mais recomendado para se medir a temperatura dentro de alimentos e também em bebidas, eles medem de –50°C a 300°C


Fontes:
http://newsblog.drexel.edu/2013/08/27/dont-wash-your-chicken-whats-the-cluck/
FORSYTHE, S.J. Microbiologia da Segurança dos Alimentos, 2.ed., Porto Alegre: ARTMED, 2013. 607p.
Silva Jr., E.A. Manual de controle higiênico-sanitário em serviços de alimentação. 7. ed. São Paulo: Livraria Varela, 694p., 2014