quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Verão x Calorzão x Gastroenterites

Olá!

Tudo bem com vocês?!

Bom, depois de taaaanto tempo sem escrever aqui - quase um ano! Ui!  - cá estou eu :)

E pra iniciar as postagens de de 2015 - Feliz 2015 a todos nós!!! - eu tenho uma novidade: mudei o nome do blog! Antes era Blogando Ciências e eu na época estava com uma ideia de fazer um blog mais geral, mas não empolgou! Então eu tive a ideia de atrelar os alimentos ao nome do blog e assim ficou: Blogando Alimentos! Eu achei bem interessante e tem muito mais a ver comigo.

A primeira postagem da nossa nova roupagem "alimentos" é sobre um post que eu publiquei na minha página do Facebook e houve grande repercussão, pois trata-se dos cuidados que devemos ter quanto à alimentação nesse verão de rachar, literalmente falando! 

Aqui eu falarei com mais detalhes. Bora lá!:

Estamos no final de janeiro e a sensação térmica aqui no Rio de Janeiro hoje está em torno de 50°C, sem exagerar! E este calorão acompanhou janeiro inteiro e o pior, não chove :)

A situação está muito preocupante aqui, especialmente nas regiões Sudeste e Nordeste do país e as autoridades já falam sobre racionamento de energia, caso a seca nos reservatórios que suprem as hidrelétricas continue. Só rezando pra chover, viu!!!

Bom, mas o assunto não é o clima, mas tem a ver com ele, pois os microrganismos que se nutrem dos mesmos alimentos que nós consumimos podem se beneficiar e muito, das condições climáticas, se não tomarmos especiais cuidados nessa época.

Alguns pequenos cuidados alimentares devem ser tomados para que as crianças e nós também não soframos com gastroenterites, que muitas vezes podem se agravar e até mesmo serem fatais! 

Quais seriam estes cuidados?:

A água das piscinas podem albergar vírus, como os norovirus, e bactérias, como as enterobactérias patogênicas, caso não esteja devidamente tratada - e nessa época, sabemos que as piscinas de clubes andam lotadas e aí não há tratamento microbicida que aguente tanta matéria orgânica na água né?! Os riscos de adquirir gastroenterites virais, como norovírus, rotavírus e hepatite A são bem grandes, especialmente entre as crianças. O cuidado deve ser redobrado, pois essas doenças levam a uma desidratação muitas vezes severa e em alguns casos, fatais!

Após o preparo de alimentos, quentes ou frios, não deixá-los longos períodos à temperatura ambiente. O ideal é levá-los o mais rápido possível à refrigeração. Esse tempo que os alimentos ficam expostos à esse calorão é suficiente para que bactérias se multipliquem e produzam toxinas. Fiquem de olho em restaurantes, na medida do possível. Um exemplo clássico é aquela salada de maionese super manipulada que fica exposta durante o todo o churrasco ou aquele arroz que você "requenta" toda vez que vai consumir e a sobra fica esfriando à temperatura ambiente.

Mas em quanto tempo eu devo levá-los à refrigeração, Raquel?! Bom, os órgãos internacionais, como FAO e OMS recomendam que após a cocção, os alimentos devem ser levados à refrigeração assim que atingirem pelo menos 55°C em sua superfície. Difícil saber né?! A não ser que você tenha um termômetro para alimentos. Eu coloco a mão sobre a embalagem, se ainda estiver quente, mas suportável, não "pelando" nem temperatura de mamadeira, eu coloco na geladeira. Mas e a luz?! Você escolhe: ou a conta de luz ou a gastroenterite. Bom, o que importa é que após a cocção, os alimentos devem ser refrigerados rapidamente de 55°C para 21°C em 2 horas e de 21°C para 4°C em 6 horas. Para isto é importante que o recipiente não tenha mais do que 10cm de altura, caso contrário, a temperatura não será uniforme em todo o alimento neste período de resfriamento e você dará chances ao crescimento de microrganismos. E é fundamental que a geladeira não esteja abarrotada de alimentos, senão o ar frio não circula e o alimento não será resfriado.

Outra dica é que ao reaquecer os alimentos, é fundamental que, no ponto mais interno (ponto mais frio do alimento), alcance a temperatura de 74°C. E evitar reaquecimentos repetidos com espera longa à temperatura ambiente pós-cocção, pelo mesmo motivo comentado anteriormente.

Sacolé?! Quem não gosta?! Eu amo! Mas de origem desconhecida?! Nem de graça! Quer sacolé, faça o seu! Vai dar ao seu filho, faça o seu pelo amor que você tem a ele!!! Bactérias, como Escherichia coli patogênicas, Shigella e Listeria monocytogenes podem estar no alimento e quando encontram uma oportunidade de se multiplicar no organismo do comensal, causam doenças em você ou no seu filho! 

Água sempre de boa qualidade! Não compre água mineral de ambulantes na rua. Muitas vezes, essas pessoas, de má fé, reaproveitam garrafas sem a menor higiene e colocam água sabe-se Deus de onde!
Prefira comprar em lojas, padarias, etc.

Vai comer em quiosques na praia? Muito cuidado! Muitos não tem nem banheiro!!! É verdade! Como os funcionários se viram?! O seu peixe vai vir com um brinde não muito agradável! E nessas condições, Escherichia coli, Salmonella Tiphy, Shigella, Vibrios, vírus da hepatite A, norovírus e por aí vai!

Não tem muito a ver com o assunto, mas não dê mel a crianças menores de 1 ano. Mas por quê?! Por causa do botulismo infantil. Antes de 1 ano de vida, os bebês ainda não têm proteção intestinal, ou seja, o intestino ainda não está completamente "povoado" por bactérias da flora natural, que atuam de modo a defender o nosso organismo. Assim, ao ingerir esporos de Clostridium botulinum, estes germinam e produzem a toxina no intestino do bebê, que é então absorvida e causa a doença, que pode ser fatal!

Ah! Não lave o frango! Por quê?!: Principalmente para prevenção da campilobacteriose. Campylobacter jejuni é uma bactéria responsável pela maioria dos casos de gastroenterites nos EUA. Aqui no Brasil, não temos muitos dados sobre a prevalência de casos, mas é importante ter em mente que boa parte da carne de frango comercializada pode estar contaminada por esta bactéria, devido à elevada prevalência entre frangos de corte. Ao lavar o frango, geramos micro-gotículas super contaminadas que se espalham facilmente por todos os lados. Então, se houver uma faca, uma tábua de corte, uma alface já higienizada e/ou outros utensílios que não serão lavados nem desinfetados após isto, correremos um grande risco de nos contaminar. E basta uma dose bem pequena desta bactéria pra ela causar a doença no homem. 
Crianças, idosos, gestantes, pessoas com doenças crônicas e imunocomprometidos são mais sensíveis e podem adquirir a doença, até mesmo de uma forma mais grave. Isto vale para qualquer doença transmitida por alimento, ok?! Fica a dica!!!

Por falar em forma grave, a campilobacteriose pode evoluir para uma forma mais grave, porém rara, que se caracteriza por uma doença neuro-degenerativa, chamada Síndrome de Guillain-Barré!

Lembrando sempre dos cuidados antes de manipular alimentos! A maioria dos surtos de gastroenterites ocorre no ambiente domiciliar!!! Quais cuidados?! Num próximo post, eu falo sobre eles ;)

Até mais!!!

Obra consultada: Manual de controle higiênico-sanitário em serviços de alimentação. Eneo Alves da Silva Jr. 7. ed. São Paulo: Livraria Varela, 694p., 2014